Será por tão bela a língua portuguesa, que ao brasileiro satisfaz, historicamente, o discurso em lugar da atitude, sendo a última até subjugada pela primeira todos os dias?
É notável o quanto a população do torrão pátrio é vulnerável ao discurso gracioso, floreado, alegórico e ideal, sem qualquer compromisso com a materialização do que é ressaltado em palavras, e mais palavras, nada além de palavras.
Atentem para o nosso arcabouço legal, nosso elenco de leis estruturado em notas frias e padronizadas, mas de intenções e princípios que, de tão nobres, chegam a soar poéticas, sem passar disso.
Quão sublime é a redação da Carta Maior da República, a Constituição Federal, ao ponto de ter sido apelidada de "Constituição Cidadã", promulgada sob a moldura de discursos de notáveis que bradando os valores nela encerrados, chegaram a profetizar a gênese de novos e bons tempos para a nação. E só, nada de muito alterador, ou mesmo alentador sobreveio no plano dos efeitos cotidianos das vidas práticas.
Qual a razão então de, nem mesmo no que depende apenas de nós, homens e mulheres que compõem a coletividade nacional, beneficiários justos do sagrado direito de opinião, se conseguir efetivar as liberdades cidadãs que as leis e os discursos insistem em dizer sagradas e consagradas em nossas vidas?
Só para isso, opinar com liberdade e franqueza, tivéssemos nós a tolerância real - não apenas a constitucional ou formal, e paciência para escutar, como o respeito para contra argumentar, para o que só necessitamos de consciência própria e consideração mútua, creio, teríamos perspectivas de futuro diferente dos medos que nos assombram.
Aos que desagrada a figura do "mito", sequer deveria ser mensurável rasgar o outdoor em seu apoio, pois exercício de liberdade de opinião e manifestação de seus conterrâneos no sentido do que lhes parece melhor para a vida de todos, inclusive seus adversários.
Já os que ojerizam o "molusco" e seus correligionários, não poderia ser dada a possibilidade da ofensa moral contundente, vexatória e recorrente, pois seus apoiadores, de igual forma, viram na sua condução as mesmas possibilidades de bem comum.
O resultado de tais posturas é o surgimento de mais intolerância, no caso dos terceiros que, de tanto a tanto assistir às infâmias recíprocas, se exauriram dos polos e, além de relegar às opiniões somente indiferença, nada manifestam para não se assemelharem com o que entendem seja irracionalidade. Ou calam, simplesmente, para não se incomodarem com os chatos que cada lado tem.
No passo das coisas, a retórica, a opinião e a manifestação estão sendo tolhidas pelas pessoas em prenúncio do que poderá, quem sabe, vir a fazer o Estado.
A mim parece paradoxal não poder falar no país das palavras que encantam mais do que realidade.